Os processos artísticos do Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira nasceram do encontro de dois tipos distintos de dança: o balé clássico e as danças populares brasileiras. Fruto de entendimentos distintos sobre o que, de fato, são, e abrigando preconceitos produzidos pelo desconhecimento da diversidade que cada uma abriga, quando postas em relação, estas duas denominações, curiosamente, suscitam questões em torno dos mesmos temas: mestiçagem, colonização e identidade.
Tendo surgido da convivência de dois corpos com saberes distintos – Ângelo Madureira (dança popular) com Ana Catarina Vieira (balé clássico) uma história de 20 anos de criações, lendo-a como um fluxo de trocas de informação que promoveu transformações irreversíveis, que continuam a jorrar e a se distribuir em muitas direções. Ao longo de 20 anos de existência, Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira receberam os prêmios mais importantes existentes na cultura brasileira, entre eles: APCA de percurso de pesquisa e de revelação, Petrobras Cultural, Fomentos Municipais, Rumos Itáu Cultural, Caixa Cultural, Proac, Klauss Vianna, entre outros (*item currículo do grupo).
Com carreira internacional, o grupo passou pelos festivais mais importantes do Brasil, como Panorama Rio Dança, FID, Bienal de Dança de Fortaleza, De Par em Par, Festival Internacional do Recife, estiveram em duas edições da Bienal do SESC de dança, edição de 2015 fizeram a abertura e edição 2011 fizeram o encerramento, ambas com louvor do público, sempre muito caloroso com as obras criadas pelo grupo. Em alguns festivais estiveram mais de uma vez, como é o caso do Festival Brasil Move Berlim onde das cinco edições o grupo esteve em duas. No Festival Queer Zagreb, Queer New York e Queer Split, incluindo uma co-produção com o Festival Perforacije da Croácia, estiveram inúmeras vezes, realizando workshops, palestras, aulas e projetos como “ A Casa do Outro” (2004) onde vários artistas ocupam casarões antigos com suas performances dançantes. “Delírio” foi o único espetáculo solo apresentado no Teatro Nacional de Zagreb, um teatro que normalmente apresenta Orquestras, Companhias e Balés. Com 21 anos de existência, o espetáculo “Delírio” continua até hoje sendo solicitado por inúmeros curadores nacionais e internacionais. O “Grupo Ana e Ângelo” também representou o Brasil no “Ano do Brasil em Portugal”, país que estiveram mais de uma vez, passando por importantes teatros como o “ Teatro Carlos Alberto” na cidade do Porto.
Conquistaram através do edital “Petrobras Cultural” três anos de patrocínio. Realizando uma circulação pelo Brasil, através deste subsidio, alcançaram um grande público. Como o grupo esteve em muitos festivais, e os festivais sempre tem muito público, o grupo se tornou conhecido por um repertório bastante diferenciado que vão de obras mais conceituais, a obras interativas, onde o publico participa do espetáculo e em alguns momentos se torna protagonista.
A relevância deste grupo, não para por nos patrocínios, criticas e apresentações, o grupo está presente em inúmeros programas da “TV Cultura”, pois durante alguns anos foram dirigidos pelo ilustre “Fernando Faro” que dirigiu, por exemplo o espetáculo “ O Nome Cientifico da Formiga” de 2008, espetáculo que passou todos os estados brasileiros com uma circulação através do projeto do SESC “Palco Giratório”, que foi mais uma maneira de ampliar o público que acompanha o trabalho do grupo.
Nestes 20 anos de percurso o grupo criou quase dois espetáculos por ano, tendo em seu repertório mais de 40 obras artísticas, recebendo ótimas criticas por todos os lugares que passaram e com as criticas e o reconhecimento do publico o grupo foi contemplado com uma das concorrências mais difíceis existentes no Brasil o edital “Petrobras Cultural”, concorrendo com grupos brasileiros consolidados e nesta concorrência, apenas quatro grupos foram contemplados, entre estes grupos estava o Grupo Ana e Ângelo e a Quasar Cia de Dança, a comissão foi composta por muitos profissionais notório saber da área da dança, passando também pelo Conselho de Cultura da Petrobras antes de ter seu projeto contemplado. Outra referência importante na carreira de Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira foi a participação no filme “Os Brasileiros” dirigido por “Phelippe Barcinski” para a “TAL” – “Televisión America Latina” no elenco do documentário Antonio Nobrega Carlinhos de Jesus, Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira.
O percurso do grupo envolve também processos pedagógicos relacionados com o ensino da dança e o desenvolvimento de metodologias para criação e pesquisa de linguagem. No ano de 2014 para concluír o curso de “Comunicação das Artes do Corpo” escreveram duas monografias com mais de 400 paginas onde são colocadas as metodologias, sistemas e formas de atuação da dupla, contextualizando e entregando como foi gestado os resultados alcançados pelo grupo em seus espetáculos, aulas e projetos. Estes resultados são utilizados por inúmeros profissionais como uma referência da cultura brasileira. O grupo está presente no material didático que é distribuído em escolas publicas, sendo estudados por professores das mais importantes universidades do Brasil como a UFBA, USP e PUC.
Desde 2000, o Grupo Ana e Ângelo mantém uma sede ativa onde acontecem suas atividades, como aulas, ensaios, apresentações, encontros dançantes e percussivos. Atualmente sua sede esta denominada como “Base Arte”. O grupo também fundou outros seis projetos: “Bolo de Rolo: Banda Baile Bloco”, “Bloco de Carnaval Arrianusuassunga”, “Orquestra de Alfaias”, “Corpo de Baile Base”, “Banda Bolo de Rolo” e “Banda Baque Virado”. Com sua dedicação a cultura brasileira o grupo foi formando publico, alunos, bailarinos e contribuindo para a formação de uma linguagem brasileira de dança que tem como base a confluência entre as danças populares brasileiras, o balé clássico e a dança contemporânea. Ângelo e Ana Catarina também criaram para outros grupos/projetos entre eles estam: Agô Dança Contemporânea para Orquestra Heartebreakes, parceria com o músico multi-instrumentista Guga Stroeter – 2008, Sem Conservantes para a “Cia Gira Dança” de Natal – 2015. Lança para “Vila das Artes de Fortaleza” – 2017, “Goitá para “Cia Cisne Negro” – 2019 e “Aparições” para “São Paulo Cia de Dança” – 2020.
Ao longo de seu percurso e através de dois cursos ministrados por Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira capacitaram jovens e adultos para apreenderem a ensinar as danças populares brasileira, olhadas como habilidades do corpo, desenvolvendo um conhecimento avançado sobre a prática das danças populares brasileira. São 21 anos, que a dupla “Ângelo e Ana Catarina” vem se dedicando a pesquisar, elaborar metodologias para possibilitar a transmissão do conhecimento produzido por suas pesquisas. Os integrantes do curso, recebem um memorando para continuarem estudando e fazerem consultas.
O Grupo Ana e Ângelo elabora diferentes estratégias para ir ao encontro do público. Mais do que uma linguagem que nasce do encontro entre balé clássico (Ana Catarina Vieira) e as danças populares Brasileiras (Ângelo Madureira) que escolheram a dança contemporânea para manifestar-se. A dupla se dedicou a construiu uma linguagem de movimentos criados pelo desenvolvimento de uma pesquisa voltada para a criação artística em dança, dentro de toda a complexidade que cabe a um processo dessa envergadura. Sempre desejam transferir, transmitir e contaminar quem entra em contato, entregando generosamente a sua produção nas mãos de todos os interessados. É uma linguagem que não está somente conectada com a pratica dos passos e movimentos, a relação é estabelecida através de uma forma de pensar e desenvolver processos artísticos de criação e pesquisa para a área da dança. Os artistas e alunos que passaram pelo grupo e/ou pela escola que fundaram em 07 de maio de 2000, aprendem os passos e movimentos juntamente com uma forma de pensar e de construir sua própria dança como uma maneira de sobreviver. Gostam de agregar diferentes públicos, fazer uma dança para todos e o que mais os desafia hoje é saber como transformar a pesquisa de linguagem em uma obra artística que capture o público, sem subestimar a sua capacidade de entendimento, mesmo quando se trata de um público pouco envolvido com a dança.
Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso. (Benjamin, 1940, p.222)
Os processos artísticos do Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira nasceram do encontro de dois tipos distintos de dança: o balé clássico e as danças populares brasileiras. Fruto de entendimentos distintos sobre o que, de fato, são, e abrigando preconceitos produzidos pelo desconhecimento da diversidade que cada uma abriga, quando postas em relação, estas duas denominações, curiosamente, suscitam questões em torno dos mesmos temas: mestiçagem, colonização e identidade. Tendo surgido da convivência de dois corpos com saberes distintos – Ângelo Madureira (dança popular) com Ana Catarina Vieira (balé clássico) – o percurso artístico transformado em objeto de pesquisa teórica e pratica. Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira são uma referência na cena artística da dança brasileira.
“Aprender os passos não é o mesmo que aprender as danças, aprender as danças não é o mesmo que aprender a dançar”. Ana Catarina Vieira (2002)