O solo ONILÉ, de Ângelo Madureira, parte do encontro do bailarino com a Bachiana número 3 de Heitor Villa Lobos, e desse contato eruptivo, Ângelo recupera da mitologia Yorubá a importância do reconhecimento das forças invisíveis e matriarcais que sustentam a continuidade da vida, como metáfora para a criação desse trabalho. Relacionando a partitura musical, com a celebração dos elementos primordiais que informam o corpo sobre as conexões com o feminino, com as forças da terra  e com as vibrações que agem subterraneamente, Ângelo constrói sua dança celebrando a potência da força criativa, numa composição em tempo real. Trazendo das entranhas da terra, a materialidade do carvão, o bailarino elabora seu gesto na relação com o desenho, fazendo do traço, ou melhor do risco do carvão sobre telas, um exercício de notação de movimento que impulsiona a dança e que também a desdobra, se espalhando por trinta telas que ao mesmo tempo documentam e propulsionam o projeto. Em tempos de reflexão sobre as ideias de Brasil que se celebram no bicentenário da Independência da nação, e mais diretamente no centenário da Semana de Arte Moderna em seu devir rebelde e contestador, uma dança como ONILÉ nos relembra que para além do ritmado, colorido e alegre, há um Brasil subterrâneo de tons outros que merece maior protagonismo. Continuando uma tradição modernista familiar e ancestral, ONILÉ também celebra os Madureira, e toda importância da dança transmitida de pai a filho, de família a família, ressaltando as linhagens matrilineares, imaginando um Brasil que se conecta a toda a América Latina, que se relembra como ramo de uma grande árvore. ONILÉ é uma celebração a Pachamama, aos princípios que fundam os Orixás dessa terra. Encontrar a Terra Brasilis provoca em Angelo uma catarse, tal qual o quarto movimento da Bachiana 3 de Villa Lobos, a Tocatta Picapau, poema que celebra a música das florestas. O instinto criador em sua crueza.

Criação, pesquisa de linguagem, coreografia, interpretação, desenhos, direção artística: Ângelo Madureira

Figurino e colaboração: Ana Catarina Vieira 

Sinopse: Paula Petreca 

Música: Heitor Villa Lobos Bachianas Brasileiras número 3: IV. Toccata: Picapu/IlI. Aria: Modinha

ONILÉ VÍDEO

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